domingo, 26 de junho de 2011

Perseguição

Era pra ser uma história de terror, sábio meu, uma história pra te fazer gritar.
Era me fazer encontrar nos menores detalhes do teu cotidiano: na cafeína na xícara de café, na dedicatória na primeira página de algum livro, na nicotina do maço de cigarros, no ácaro da sujeira. No bem-vindo do tapete na porta da entrada (eu era o bem-vindo no tapete da porta da entrada). Certeza que te poria medo.
Eu seria o vulto nas suas fotografias. E você olharia pra essas fotografias, ah sim, eu te faria olhar essas fotografias. Um dia, quando você chegar a casa, elas estariam espalhadas pelo chão e as paredes estariam marcadas com mãos de tinta negra. Certeza que você tremeria.
E quando você estiver no trânsito, eu estarei no carro ao lado. E quando você for nadar, eu estarei na raia vizinha. E quando você sair pra dançar, eu serei o DJ. E quando você for caminhar, serei eu a te perseguir. Certeza que eu conseguiria.
E se você estivesse sozinho, eu externalizaria seus medos. Eu seria a chuva, o raio, o escuro. Eu seria o vento que apaga a vela. Eu seria os passos que você escuta enquanto adormece. E quando você se cansasse e finalmente me encarasse com os olhos cheios de lágrimas, aí sim, eu teria certeza.
Eu saberia.
Não era terror seu.
No fim, era desespero.
Meu.

02. I Follow Rivers