segunda-feira, 1 de março de 2010

Tecer ou ode a Penélope

Costurava letrinhas o dia inteiro. As tinha em uma caixa de vime, e as escolhia aleatoriamente.
Por mais que costurasse, a entropia não diminuía e a desordem e o caos predominavam.
Os fios estavam espalhados como teias de aranha suspensas por aquele lugar que se assemalhava a uma sala, um aposento de madeira, com a máquina no centro e uma simples lamparina como decoração.
Não via nada além, só escutava.
Quando escutava o canto do Grou, tecia desesperadamente, usando fios azuis, brancos, vermelhos, liberté, égalité, fraternité. Ficava feliz, não o escutava comumente. Mas quando acontecia, era por um longo tempo. Tecia, tecia, tecia e não sentia. Algumas vezes reparava que faltavam letrinhas, mas entendia que não faziam falta, as letras vizinhas compreendiam .
Mas na maioria das noites, escuta o som da coruja. Aí, silenciava e usava fios negros formando um bolo de retalhos negros. Costurava e descosturava, costurava e descosturava. Quando dava por si, estava no mesmo lugar, exatamente na mesma posição, há horas. Nada feito. Aí se cansava e deitava sem sair do lugar. Seu corpo presente, mas a mente longe.
Não pensava nada, só esperava a lua morrer para ver nascer outra e assim, esperar o novo dia de boa ou má sorte.

Um comentário:

  1. meu lado ariadne não desiste de tecer também. acho que no fundo adoro o minotauro!
    * tu teces bem hein!
    * eu sempre ouço corvos de Poe.

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