terça-feira, 8 de março de 2011

Mais um poema de amor

Naquela vez que desci ao porão da sua casa escutei poemas de amor absurdo-não o amor, e sim os poemas-declamados por alguém que eu não sabia quem, podia ser até você, já que nunca te escutei falar mesmo. Sentei num canto escuro já pensando na cerveja que ia tomar e no cigarro que ia inalar, quando as luzes se acenderam e uma figura com maquiagem pesada e borrada surge, com cabelos pretos lisos e enormes amarrados em um trança única jogada pra frente do corpo. Só poemas de amor eu ouvia repetidamente com meu sorriso de escárnio a posto esperando escutar “pau” e “vagina”-voilá- e a tão famosa rima. A rima. Desde quando amar é rimar? Amar é encaixar, não são essas palavras que harmonizam, são aquelas que complementam. É cérebro. É prosa. É árduo. Não é o céu, é o deserto. Não é siamês, é criar uma ponte na distância. Sinceramente, você. Com suas Neusas ignorantes, mas amáveis. Com suas musas de sarjeta, mas fogosas. Traga mais uma cerveja. Bata mais uma salva de palmas. Declame mais uma besteira. Deguste mais um poema de amor.
Estranho, não era aquela forma decadente quem falava apenas me encarava com aqueles olhos borrados. O que eu escutava não partia dela. Quem era esse interlocutor? Quem ouvia? Quem criticava?
E foi quando escutei a figura falar pela primeira vez:
- E você que nunca escreveu poemas de amor?
E eu?
As luzes lentamente apagando ou minhas pálpebras fechando.
“Neusa,
Neusa,
Neusa,
pudor,
amor...” – Calma, já estou chegando.

Um comentário:

  1. Hi, dear!!!

    onde andas
    por essa cidade
    cheia de sombras

    ?


    No fear
    oh, woman no cry...

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