sexta-feira, 20 de agosto de 2010

ESCAFANDRO

Estou tão cansado deste horizonte longínquo, inalcançável, que me persegue (ou persigo) desde que me joguei ao mar. Como um quadro estático, uma paisagem imortal, sinto segundos, minutos, horas, dias, meses, anos passando e tudo permanece. Desvanece. Nada.
O ritmo das ondas é a cadência do tempo. Indo-vindo. Tic-tac. Levam-me sempre ao mesmo ponto, ao redemoinho gutural onde tudo se esconde. Não me deixo levar. Luto pacífico e silencioso contra monstros nem sequer desvendados.
O sol a pino queima-me sem deixar marcas, a luz incessante cega-me. Envelheço anos em dias. Lançado à dinastia do tempo, a idade passa-me internamente, corroo as entranhas e construo paredes invisíveis. Sem entradas para que não consiga me desvendar. Je et vous. Ils et elles aussi.
Não me julgue. Não me pergunte. Não tenho a resposta por ter me impelido ao mar. Masoquismo, talvez. Mas não gosto da dor. Eu e eu perdidos nesta imensidão azul e não era a liberdade azul? flutuando o pensamento e divagando o corpo.
O que o que o que o que o que o que?
Padeço. Não sinto. Discurso palavras ao vento. Esqueço. Quem se atira ao mar sabe que não será salvo. Com o tempo afunda. E quem terá a coragem de mergulhar? A refração, a reflexão e o olhar turvo. Como essas águas.

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